quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Das saudades com nome, com data, com causa.

Éramos jovens, e a juventude tinha gosto de coisa sem fim. Ó, que saudade me faz, faz mal, faz bem, eu não sei. Erámos jovens, e ela, Catarina, tinha toda a beleza da juventude, toda a virtude de uma moça tão valiosa quanto o sorriso que nos lábios pintava para adormecer as tristezas. Adormecia as minhas, entregavam-se sem relutância a um sono profundo, sublime como o canto daqueles lábios carmim que percorriam todo o espaço do meu ser. Eu sorria de amor, sorriamos em par, fazendo companhia um ao outro em ato tão mágico, tão raro, tão ela e eu. Erámos jovens, sonhávamos um conjunto de miudezas, e juntos, nos tornávamos belos gigantes. Erámos os donos do mundo, jovens donos do mundo, amando tudo o que nos dava amor. Sabíamos com um crê que ninguém duvidava, a mocidade era a borboleta mais bela que pousara nos nossos ombros, e ali, absortos e cautelosos para ela não se ir, observávamos com olhos de encanto e coração tinindo. O tempo parecia amigo, um aliado eterno, um caçador de alegrias e aventuras como nós. O tempo parecia não ir, a nossa juventude parecia eterna, a felicidade convertida em outras mil borboletas ao nosso redor. Brotavam flores de nossas almas, amanhecia assim que anoitecia, pois não havia espaço para escuridão.

Mas então, então é aquela coisa, a borboleta voara. Aonde foi a mocidade? Eu não sei. Onde se escondera a alegria? Tampouco. Via-se então uma nova borboleta sair da crisálida, pousar nos meus ombros e pesar tanto que eu mal conseguia ver o que o tempo fazia e assim impedi-lo, ele que outrora era amigo, mostrava-se o pior dos inimigos ao levar-me todo o meu tesouro. Ali, em mim, ou em qualquer lugar que eu estivesse desde então, Catarina não estava mais.

E eu já era um velho.

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