sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Mariá.

Chamo-me José Honório. Não sei o que significa Honório, e nem por que raios minha mãe me dera esse nome. Amiúde tenho tentado enxergar o que há dentro de mim, o que cresce ou o que morre; o que renasce ou o que nada faz. Foi nessa procura de mim mesmo, que em mim a encontrei. Andava devagar… Ou a divagar? Andava. Usava coque e não deixava que lhe vissem o cumprimento dos cabelos. Por vezes e por horas, eu tentava adivinhar. Bateria na cintura, eu concluía. E eram encaracolados como os caracóis, bonitos como olhos de gato. E ela tinha olhos de gato. Eram grandes e exclamadores, cheios de expressões e dizeres que eu tentava ler, ou quiçá ouvir. Escondida, ela fumava dois ou três cigarros e disfarçava o hálito com duas ou três balas de menta. Ás vezes era de hortelã também.

Eu não sabia o seu nome, mas ela me parecia chamar-se Maria. Ou seria Mariá? Acho que Mariá, pois algo nela era intenso como a letra “a” acentuada. A provável Mariá [que não era mais Maria] era de mãos atrapalhadas, tudo lhe escapava e no chão se entregava, quebrando-se. Um diabo escapava de seus lábios e logo em seguida um perdão a Deus. Mariá era moça alta e magérrima, pouca se alimentava, o que gostava de fazer eram palavras cruzadas. Vezenquando batia em mim um desejo de ir até ela e ajudá-la em alguma palavra, pois quando já estava impaciente por não conseguir formá-la franzia as sobrancelhas e fazia bico. Mariá não sabia, e eu tampouco sabia o porquê era assim, mas quando ela sorria, o sorriso alvorecia qualquer madrugada insone do meu viver. Mariá tinha poderes, poderia ser bruxa ou feiticeira, mas algo nela dizia-me baixinho que era fada. Ela tinha asas, pareciam pernas e pés como os meus, mas eu sabia que eram asas.

Mariá fazia-me sentir. Uma coisa que… Que eu não sabia que nome dar-lhe além de “coisa”. E essa coisa talvez fosse contaminada de algo que já ouvi falarem por aí, um tal de amer… amir… Amor! Isso, Amor. Desses que nasce sem saber como discorrer razão de tal nascimento, desses que… Exatamente desses. Pois Mariá só fazia-me sentir, senti-lo… E eu nem sabia se esse era o seu nome.

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