quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Querido amigo,

Descobri a algum tempo que sou um grande nefelibata. Olhe para o céu, mas olhe de verdade, e se quiser, lá me verá… Provavelmente numa nuvem cor de abóbora onde construí minha casa para na terra nunca mais pisar. Não nego que gostava de viver com os pés no chão, mas fui enxotada da realidade pelo meu próprio instinto de salvação. Se eu ficasse, esses pés que viviam sobre a terra, hoje certamente estariam em baixo dela. Tive que ir, meu bom amigo. Mas isso não impede que entre nós haja essa conversa. Veja, se está lendo isso nesse instante, é por que meu lindo passarinho azul-caramelado lhe trouxe ela no seu bico vermelho-ouro. Queria que visse como é lindo, mas certamente teus olhos só permitiram que visse um pobre pombo branco e sem graça. Ah, que pena, que pena! Queria eu poder compartilhar contigo todas as belezas que agora aprecio, aqui, vivendo nas nuvens. Há mistérios como na terra, mas te digo que estes não enlouquecem meu amigo. Estes salvam! São como braços de mãe e que te cobrem com ternura, para te curar todos os males que sofres. São assim esses mistérios, beijam a testa, dão as mãos, fazem cafuné, até. Orgulho-me de ser nefelibata, aprecio a felicidade que de mim emana e queria poder dá-la também, para que no peito guardasse e usasse nas horas mais necessárias; as vinte quatro horas que compõem o relógio. Mas tu, amigo querido, és cético, não é? Limita a tua imaginação, acredita apenas nos que estes olhos cegos [muito cegos!] conseguem ver. Queria estender-te a mão e saber que você a seguraria, mas sei que elas ficariam dormentes de tanto esperar. Queria a tua companhia na minha casinha torta sobre essa nuvem cor-de-rosa [ela muda de cor toda hora, não se importe!] para que juntos fôssemos contagiados com a esperança de que nada tem um fim. Até mesmo esta carta, mas você certamente não saberá ler o resto, pois não entende a língua que aqui eu falo. A língua dos poetas…

Aqui te deixo um abraço com braços bem apertado envolta do teu corpo… Enviei-te também minhas violetas amarelas com cheiro de pêssego, apesar de você ver apenas um lírio quase murcho. Até mais, meu amigo. Se você mudar de ideia a respeito de querer ser feliz, vou deixar meu pássaro azul-caramelado de bico vermelho-ouro por uns dias aí na terra. É só abrir os olhos que o verá, caso ele não apareça, chame-o pelo nome. Mas chame com vontade, com toda sua fé, e então ele virá.

Com infinitos beijos e aquele abraço apertado, teu grande amigo nefelibata.

Ps. O pássaro se chama Sonhos. Acredite nele e ele acreditará em ti. Chame-o alto, ele é meio surdo. É tanto gente que vive o chamando…

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