sábado, 26 de novembro de 2011

Refém de nós, livre de fins!...

Aos olhos míopes dos homens, eu vejo o que pouquíssimos conseguem ver. Vejo o amor. Vendo o amor, vejo-te nascer… Em mim.

Se tu, ó amor meu, esconder-se entre pinhais e gramados altos, ainda assim poderei te ver. Minha memória te desenhara em minha mente, tão vivo e formoso que quase consigo te tocar e te ter. Tu tens olhos dissimulados, e decerto é o que fazes. Tu tens olhos mortos, mas que me dão vida quando não mais espero. Teus lábios são riscos no teu rosto anguloso, lábios ladeados por um pequeno sinal que vivo a encarar, no teu eu da minha memória. Vive em ti o mais belo rio, quedando pelos teus membros e tronco, e assim fazendo que eu me torne uma bela cachoeira apenas para adentrar-te, flutuar e afundar nas tuas águas azuis e diáfanas. O cheiro que de ti emana é a das mais grandiosas amenidades, os cálidos frescores que me acompanham, despertando-me no amanhecer, adormecendo-me no anoitecer. Tu és a estrela cadente que vi passar numa noite ébria, fiz um pedido e tu caíras em meus braços, entregando-se para cuidar e ser cuidado.

Tu és tudo o que lhe cabe beleza e lirismo, tu és a poesia escrita para libertar o poeta, mas que o faz de refém em suas palavras… E o agrada. E me agrada. Então recite-me dia e noite, noite e dia. Ponha-me segura numa folha guardada em teu bolso, e se fores poema grande demais, guarde no peito então.

Apresento-lhe aqui o que teça minha alma sofrida, mas que feliz fica quando te vê, mesmo não te vendo, não te tendo, só querendo. Ó amor meu, tenha piedade das minhas ânsias que meus lábios trêmulos soluçam num cântico triste. Abra teus ouvidos para escutar o que clamo, pois clamo por ti. E regue nosso amor que ainda é muda, e faço-o crescer como as árvores mais velhas desses bosques que tu se escondes: intactas e invencíveis.

E que o nosso amor seja assim, refém de nós, livre de fins!

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