sábado, 21 de janeiro de 2012

O morno; dois mortos.

A boca que me beija indesejável tem gosto de cigarro tragado nessa manhã e ele disse-me que havia deixado fazia dois meses. Os olhos que me olham desinteressados têm segredos que já não sei se posso decifrá-los e não me permito a uma tentativa. Está tudo morno e o morno, por uma razão estranhíssima, me agrada. Não me aquece e nem me esfria. Não faz nada, nada sinto. Os desgastes vividos entre nós se culpam e eu os culpo; também culpo a mim e ele que por vezes seguirmos caminhos contrários nessas tentativas de acertos, mas aí erramos, voltando para o de sempre pelo medo do desconhecido. Acomodamo-nos a essa vida que já não nos traz surpresas, e enquanto uns reclamam da monotonia, nós a observamos tomar nossa vida; como dois telespectadores menos preocupados do que deveriam. Somos medrosos, desconfiados do futuro, despreparados para o que na vida há de melhor. Somos menos a cada vez que nos deixamos sermos nada um do outro. Mas vivendo desse jeito, sem sofrer e sem ser feliz, descobrimos que nem todos os mortos deixam de respirar e andar. A ciência dessa gente viva deveria nos conhecer.

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