segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Onde mora a loucura.

Acabo de retornar d’uma viagem longa. Levei na mala eu mesmo e ocupei todo o espaço. O engraçado é, que além disso não ter graça, eu não sei aonde fui. Se eu vaguei pelo norte, fui parar no sul. Se eu segui ao leste, lá me vi no oeste fazendo seiláoquê. Não sei ao certo se me perdi, talvez nunca houvesse tido algum encontro para assim fazê-lo. Mas não sou feita de certezas, ao revés, é das incertezas que bordei o meu ser. Entrementes, cobre-me a alma à velha vazieis de quem se desconhece; numa palavra dita sem pedido, num gesto rebelde que se revela. Abro os olhos e vejo: aquilo que eu não sei o que fui já deixei de ser, torno-me então um texto, penetrada entre suas letras e suas linhas, sendo escrita por alguém que os assina com o meu nome. Mas ao fechar os olhos, converto-me facilmente à poesia, cheia de lirismo e rimas, que nem o mais sábio dos homens sabe dizer o porquê.

Eu disse que voltei de viagem, mas não me recordo de abandonar este corpo, decerto não o fiz. Deságuam minhas esperanças de que haveria sentido nessa impressão confessada, mas a ausência da sensatez me acanha e mais rápido eu vou me esconder. Torno-me a sombra sinuosa na parede em meio à penumbra, e sentada no chão a fito, sem saber a ela o que dizer. Encara-me petrificada, faz um ruído estranho de cansaço ao respirar. O coração pulsa em ligeireza e eu ouço, ao ouvir me pergunto rapidamente por que ainda funciona. Há um engasgo no meu peito, e eu daria qualquer coisa para cuspi-lo longe, jamais voltaria a sentir outra vez a sua vida pulsando na minha, fazendo-me sentir coisas entre outras coisas.

Não há nada que console ou que melhore. Nada que preencha o que está oco há tempos. Há vazio que importuna, que geme suas dores, que grita minha tristeza para todos os lados. Chamam-me de farsa e falsa aqueles que estão de longe, observando coisas que dizem ver, mas nada veem. Coisas que nem mesmo eu posso enxergar, pois são coisas que vivem dentro do meu ser. Ainda que seja invisível, que soe mentira e patetice, eu sinto o seu gosto azedar, inflamar, fazer doer. Essa é a verdade da “minha” mentira.

Mas não me desespero. Apenas me descabelo. A loucura mora logo ao lado.

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