quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Suicido-te!

As margens do abismo, eu vejo meus olhos crus refletidos nos seus. Peço-te a piedade minada de um único sopro para que meu corpo se renda e a queda se entregue. Eis aqui a minha súplica, meu malquerer, meu ex-amado. Eis aqui o pedido mais estranho que alguém poderá te fazer. Quero a distância das tuas mãos das minhas, quero entre nós todo o tamanho que é desse chão em que piso até o céu em que olho. Deixe que eu vá, deixe-me ir. Escute, ouça! Há esta voz que me chama sussurrante em meio à sombra fria, mas que não esconde em seu tom o desejo que tens por mim, e que não escondo o mesmo desejo que a tenho. És a morte numa visita? Por que hei de me importar com medos vãos? Quero ir, deixe-me ir. Não vagarei mais por estas terras que não me encaixo, não judiarei mais de pés que não sabem andar. Olhe a vida que tenho: uma grande inutilidade presa as minhas costas. Mas sou que a carrego ou é ela que me carrega?… Que pouco importe também, pois só quero o fim! Vós pensa que fecharei meus olhos para nunca mais abri-los, mas te digo que será o oposto. Não condene minhas formas, não negues que é preciso. Assim como pouco vejo, tu pouco entendes o que se passa em mim. Nem mesmo duvido que até se recuses á saber, sou apenas um adorno na tua velha estante. Sou apenas o que anda soterrada a tua poeira bruta.

Quero beber a liberdade como um apreciador que bebe o mais saboroso dos vinhos. Quero o próximo passo à beira do precipício, onde o vago meus pés tocarão e depois mais nada sentirei. Deixe-me deixar-te, deixe-me escorrer pelos dedos como a água que caí pelo corpo levando a sujeira de tudo. Deixe que minha alma entenda o quanto o amor [o teu, somente o teu] é distante, e que respeite as estradas, as paredes, o corpo onde não habita um coração para acolhê-lo na chegada. Não posso crê que terei uma morada quando tu mesmo vagas por aí, despejando as almas de suas casas, desmoronando suas vidas. E como uma vítima infame dos teus sestros algozes, exijo a liberdade de ti, a salvação que se dá a essas almas desabrigadas e aflitas: o anseio e o ensejo de um encontro com o fim.

… E há de ser bom, meu malquerer. Há de ser logo!

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