quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Inácio morreu. Pedro sumiu. Henrique nunca veio.

Inácio está morto. Eu o matei. Que agora toque a Marcha Fúnebre, que Chopin soe pelos meus ouvidos e pelos ouvidos de quem agora me ler. Inácio está morto, vou chorar… Mas por que hei de chorar se fui eu quem o matei? Oh! Se arrependimento levasse a morte… Estaria eu agora a valsear com meu querido Inácio. Nós dois, mortos e juntos, eternizados numa dança sem passos e compassos, contentes e sozinhos, mortos! Inácio morreu, e eu, sua assassina, ainda permaneço viva – o que me parece injusto. Vejo Inácio passar de lá para cá com seu chapéu-coco e um cigarro nos lábios, cantando blues e atraindo olhares femininos, mas não posso lhe dizer olá e depois um adeus, não posso mais me importar e o importunar. Inácio foi morto, eu o matei, ele agora pertence ao mundo e não mais a mim.

Oh! Pedro desapareceu. Já pensei em por anúncios por aí, citar em jornais, falar em rádios e na tevê, dizer a todos e ao mundo. Meu Pedro sumiu, não tenho mais nenhum. Com quem hei de gritar? Em quem hei de descontar toda minha raiva e frustações? Quem há de me mandar calar a boca e tentar fazê-lo com um beijo? Quem me bagunçará os cabelos quando eu acabar de fazê-los? Quem sujará todos os pratos só para ver-me lavar outra vez? Que tragam logo este ingrato de volta, que o devolvam logo para mim. Preciso gritar com alguém!

Canso-me numa espera gozada. Gargalha bem alto que é para todos ouvirem e juntos formarem uma canção de risos. É a presença que não chega, a ausência que judia. Onde está Henrique? Por que nunca veio? O que há com essa estrada que se estende e o atrasa? Quero meu Henrique aqui. Não sei como é tê-lo, por isso cansa-me ter que imaginar e já não sou tão criativa assim para trazê-lo aqui dessa maneira utópica. Quero Henrique de carne e osso, com erros e acertos, até com cheiros e odores. Simplesmente o quero. Sim, Senhor.

Então, de repente, Inácio ressuscita, Pedro reaparece, Henrique chega.
Os três homens embravecidos se reúnem em minha sala… Que é que eu vou fazer?

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