terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Inês e a neve.

Há quem quer muito e muito já tem. A quem nada quer, e tudo tem. E há aqueles que pouco desejam, que pouco desmerecem, que muito deviam ter, e nada tem! Conto agora uma pequena história, a história de Inês. E a neve.

Fez-se a neve no céu, neve que quedava com brisa suave e pintava as ruas de branco, um lindo branco cheio de paz e dizeres silenciosos. Oh, era delicioso! Não tinha gosto, mas tinha um valor indiscutível. Inês tentava fazer a conta enquanto observava da janela de sua casa a neve cair, perdeu-se na conta e desistiu, apenas sorriu um sorriso de que tudo estava bem. Imaginou. Imaginou uma linda cena feliz, onde ela era livre e amiga da neve, as duas estavam juntas, juntíssimas. Ambas corriam pelo branco com sorrisos e olhos fechados, com braços abertos e coração saltitante. Inês voltou a abrir os olhos e tudo se tornou quente outra vez, a neve permanecia belíssima do lado de fora e elas jamais haviam se falado. Nenhuma palavra, nenhum toque. Inês apenas a olhava, mas a neve nem sabia que ela existia. A neve aparentava está contente com as outras crianças, crianças amigas que pareciam mais contentes ainda por está com ela. Inês já havia entendido que não podia ir, tudo bem, tudo bem, um dia, quem sabe, pode ser. Ela esperava que o destino viesse apresenta-las, espertava que finalmente pudesse contar a neve toda a admiração e apreço que por ela tinha, desde que a viu a primeira vez. Caindo, branquíssima, lenta e silenciosa.

Fora numa noite de Natal. Ela não viu, mas um velho de vermelho com cabelos e barbas brancas que se chamava Noel, havia vindo numa visita secreta na madrugada e lhe deixado o melhor presente que poderia ganhar, dizendo a sua mãe. Inês achou que deveria ficar feliz, mas durante certo tempo não conseguia entender o porquê, não via graça na peça, não sabia para quê lhe seria tão útil assim. Só depois de algum tempo descobriu, e não tardou a fazer novas descobertas… Primeiro o quanto sua mãe estava certa, segundo, a existência da neve que até aquele momento nunca nem fora imaginada. Não era chuva, mas caia do céu. Não tinha cor, mas era belíssima, belíssima! E então ela se apaixonou. Não devia, não sabia explicar, nem controlar, nem deixar de olhá-la um único dia, quando a neve aparecia, é claro. A comtemplava todo o tempo, sonhava e ansiava, espera na sua velha espera de um dia poder dar-lhes as palavras que guardava dentro do peito.

Inês era paciente, até a própria admirava-se pelo fato. Havia esperado semanas-meses-dias-e-horas que pareciam que jamais iriam se acabar. Então dias atrás o outono se foi e mãe abriu as cortinas dizendo não muito contente que o inverno havia chegado. Inês foi até a janela conferir, e finalmente o viu. O inverno e a neve. O inverno era a neve. Não se contentou de alegria e sorriu tanto que a boca lhe doeu à noite, mas ela não parava de sorrir. Os dias foram se passando, a neve ficando do lado de fora, Inês do lado de dentro. Era pouca a distância para olhos alheios, mas Inês a sentia como a imensidão dos céus. Longíssima, inalcançável. Certa noite chorou, depois riu de si mesma. Vivia sorrindo e chorando por causa da neve, e a neve jamais havia lhe sorrido ou derramado uma lágrima por ela. Que culpa tinha? Nenhuma. Acontece que elas ainda não haviam sido apresentadas. E se Inês pensasse, mas pensasse muito, talvez o fato não fosse tão ruim. A neve podia não gostar de Inês, e a menina mal conseguia suportar a ideia. De longe se via que ela não era como as outras crianças, não fazia o que faziam as outras crianças, e a neve talvez viesse a desgostar da sua diferença. Inês fazia silêncio, ficava quietinha, mas a mente trabalhava nos seus questionamentos silenciosos, afligindo o coração da pobre Inês. Parecia tão injusto para ela, vezenquando, que em Inês vinha uma vontade de gritar todos os gritos do mundo, gritar tanto que a neve pudesse ouvir e viesse busca-la. Mas Inês nada fazia. Inês era silêncio.

A mãe da menina a chamou. Relutante, ela fechou a cortina e a neve se foi da sua visão. Inês foi até a mãe, arrastando o seu presente do Natal passado, a cadeira de rodas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário