sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O não saber viver.

A morada de um solitário é dentro do próprio coração. Sombrio e escuro, vazio e moribundo, um riso nos lábios intactos e inúteis. Calejados de viveres que pesam, pesam o vazio. O triste vazio da maldição que é ser só. Oremos então pela vida que foi morta. Foi um homicídio com gosto mesclado de suicídio e razão.

Abandonaram-me sobre o peso morto dessa vivência fatalista. Estou à mercê do tudo – o tudo que me faz mal, o tudo que não me faz nada. É vago, mal preenchido e mal amado. Já é tarde, mas em mim ainda soa cedo essa música esperançosa que toca e ninguém consegue ouvir. Procuro um ninho para morar, fui despejada da minha antiga casa e tudo por que não me adequei. Não sei viver de resquícios, os de amores passados são os piores, os de amores passados que se impregnam em paredes e lençóis e sorriem um sorriso soturno e infernal. Não sei viver as sombras, escondendo-me e temendo aquilo que é sólido e que machuca, depois grita alto ao pé do ouvido de quem já é acostumado com o silêncio. Eu não sei viver de lembranças, lembro muito e de tudo, lembro com frequências e ausências de intervalos, depois choro por lembrar o tanto de coisas que me lembro. Eu, decididamente, não sei viver. Não sei os melhores métodos, nem os maiores macetes, não sei absolutamente e absurdamente nada sobre viver. Sou humana, eu deveria saber, mas eu não sei, não sei viver. Sou como o poeta que não sabe poetar, que não entende de rimas, que não ouve o que a sua alma grita para que ele ponha no papel, e ainda assim ele faz poesias… Não sou um pássaro e procuro um ninho. Quero ter onde morar, com quem morar e dividir a solidão que mata… mas que mate dois ao invés de um!… Que morra em companhia, de mãos dadas, de pés tocando-se na cama fria de uma madrugada azul. Que a madrugada seja lenta para os que jazem como cumplices, que sejam eternas em suas passagens efêmeras. Que a solidão só observe de longe esperando uma oportunidade certa, mas que não tenha oportunidade certa. Que seja sempre a hora errada, pois é sempre errado, é sempre errado viver achando que é só a felicidade que faz feliz… Quero uma porção de razões para tentar o que não se tenta, e o mais impossível: conseguir o que não se consegue.

Não sei viver de resquícios, nas sombras, das lembranças, não sei viver… Mas vivo!

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